quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

trabalho é trabalho, conhaque é conhaque


Dizem que, quando é para trabalhar é para trabalhar, que demoramos o mesmo tempo a fazer o certo e a fazer o errado, e que, portanto, não adianta nada trapaçar. Dizem que quem não é para comer (e eu sou!) não é para trabalhar, que patrão fora, festa na loja, e que os olhos do dono engordam o porco. Sei lá!
Dizem tanta coisa, e eu já gostei tão mais de ir trabalhar, por uns motivos, e tão menos, por outros motivos, que já mudaram, entre si, mais de mil vezes nestes sete anos. O mais certo é não terem sido os motivos a mudar, é ter sido mesmo eu.
Tenho o trabalho que escolhi, estudei na escola que foi a minha primeira opção, tive a sorte, sem preço, de ficar a trabalhar no hospital que também sempre sonhei. É claro que me esforçei, mas se tivesse nascido um ano mais tarde, o meu esforço já não me valeria de nada, por isso, há que saber admitir o papel da SORTE nisto tudo.
Tenho uma profissão muito exigente, mesmo. Todos dirão isto da sua, mas porque, no fundo, não sabem a história toda!!! É preciso que eu saiba tanta coisa, e que me mantenha actualizada, é preciso que eu saiba trabalhar em equipa, que saiba fugir quando é para fugir, enfrentar quando é para enfrentar, mas é essencial que eu saiba gerir sempre: os conflitos. É preciso saber trabalhar COM PESSOAS DE TODOS OS TIPOS, feitios, personalidades, humores, manias, capacidades cognitivas, sociais. É preciso trabalhar até com aquelas pessoas que adoramos, mas com quem não gostamos de trabalhar, com as que não gostamos, mas gostamos de trabalhar, e depois, mas sobretudo, há o doente e as famílias, e as histórias de horror, mesmo.
É preciso jogo de cintura, gerir a ansiedade e o desespero deles, mas sobretudo, não trazer os doentes para casa... E esta é uma coisa essencial, que ninguém nos ensina na escola. Isso, e que vamos sempre, sempre, sempre, perder para a morte, é tudo uma questão de tempo. É imperativo saber perder para a morte, porque se nós não soubermos perder, como vamos ajudar os outros a aceitar a sua perda?
Trabalho em traumatologia craneoencefálica e acho que já vi de tudo, mas sei que é mentira, porque um dia destes vai aparecer-me qualquer coisa impensável. Sim, porque eu já vi um milagre acontecer, e falei com ele, e não fossem as cicatrizes, eu nunca teria acreditado naquele milagre que andava e falava.
Bem, dizia eu, que já mudei tantas vezes, mas no fundo, o meu trabalho é que me mudou, e eu cresci, também, e ainda bem, estava mesmo a precisar. Gosto de pensar que cresci e mudei para melhor, embora nem sempre isto possa ser verdade, muito menos ser consensual.
Mas eu trabalho numa equipa de mais de vinte pessoas que eu nunca, nunca escolheria para trabalhar comigo, mas na qual eu não mudava nada, agora. Estes estranhos que entraram na minha vida há uns anos atrás podem, e na larga maioria não são, não ser os meus amigos mais intimos, mas são as pessoas que mais tempo passam comigo, e que me conhecem como poucos conhecerão, no meu lado melhor e sobretudo no pior. São as pessoas com quem eu aprendi primeiro a trabalhar, depois a conhecer, a aceitar e a respeitar, na diferença. E quando não tenho mesmo motivação para ir trabalhar tento concentrar-me nisto tudo o que tenho, e neles. Temo-nos uns aos outros, e isto, a par da minha sorte, também não tem preço.
Esta é a lição 2012, que todos assinariam aqui em baixo, estou certa disso.




9 comentários:

  1. Subscrevo...

    Nestes dias poucas pessoas pensam no "copo meio cheio" só se fala do "meio vazio" e qdo o foco da vida passa a ser a "catalogagem" de coisas negativas perdemos o outro lado, o lado bom das coisas das pessoas e da vida...

    Penso muitas vezes na sorte que tenho em trabalhar com uma equipa que funciona, que é profissional e humana. Temos altos e baixos na vida pessoal e no trabalho,as vezes agarramo-nos á vida pessoal outras ao trabalho para passar as várias etapas.
    O que temos de melhor é o potencial humano, a diluição de coisas menos boas, o silêncio necessário,o humor, a loucura de cada um, a capacidade de apreciar o lado bom, a tolerância,e muitos momentos só nossos,não tem preço.
    A gratitude pelo que temos é fundamental para podermos crescer um bocadinho todos os dias.

    Adorei o post!!

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  2. Eu assino por baixo, exactamente por conhecer muito bem - e a todos - esse lado menos bom!

    ;)

    Beijinhos

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  3. Post bonito este, bonito e verdadeiro... tão verdadeiro que já 3 pessoas assinaram por baixo e se identificaram... Eu não trabalho na tua equipa, trabalhei por um mês e deu para sentir o que se passa tb na minha equipa!! Cada pessoa com as suas caracteristicas, cada uma com feitios diferentes, dificeis e faceis... Nunca nos podemos esquecer que o que faz o serviço são as pessoas!!! :)
    ADorei o post :)

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  4. adorava que os meus anónimos se identificassem :)

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  5. Também adorei o post minha querida amiga:)*

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  6. Numa altura em que apenas o valor financeiro de uma actividade profissional e das relações a ela inerentes é valorizado deste enfoque ao potencial humano que existe dentro de nós. Por despertares a oportunidade introspectiva nos que leram esta mensagem apenas posso agradecer e fazer a minha parte, dando o devido valor ao que faço, áqueles com quem o faço e áqueles por quem o faço.

    Gostei muito do post!
    Continua assim que tens futuro :)
    Helder V

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  7. Trabalho, trabalho. Conhaque, conhaque.

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