quarta-feira, 24 de abril de 2013

quarta-feira, 24 de abril de 2013

na véspera do dia da liberdade, o que faremos com esta herança, a liberdade?


Quando alguém morre, quem fica perde sempre. Existe a herança, mas quem é ela? Ficamos com aquilo que é do outro, mas perdemo-lo. A verdade, mesmo, é que ficamos com as memórias, as saudades, os cheiros, o espaço, o silêncio. Herdamos sobretudo a ausência do outro. Depois, claro, há quem queira herdar coisas, e valores, mas esses são ainda mais pobres, porque perderam e não sabem.
A minha irmã, quando se diz que uma familia é muito unida, em sussurros, pergunta sempre se já morreu alguém na família, se já tiveram partilhas. Para ela, que vê o lado mais negro das pessoas todos os dias, até prova em contrário, as pessoas valorizam mais o ter.
Hoje, no regresso a casa, ouvi na radio perguntarem a um comentador o maior cliche da nossa actualidade, o que é que ele achava da crise, e ele, não defraudou as expectativas, e respondeu com um lugar comum também, mas deixou-me sintonizada. Para ele, o que importa na crise económica, é que não se perca a herança do 25 de Abril.  Que não se perca o direito à saúde, à educação, ao estado social, à liberdade de pensar e manifestar opinião, que não nos percamos da democracia.
Há um custo enorme a pagar nesta crise, sobretudo económico. Daqui a 20 anos existirão estudos a quantificar o impacto negativo da saída do maior investimento deste país, a juventude altamente qualificada. Mas a isto nós poderemos dar a volta por cima. O que não podemos é pagar, outra vez, o preço da liberdade. Já pagamos esse preço, muito alto. Queimaram-se muitos livros, rasuraram-se muitos jornais, censuraram-se muitas diferenças. Morreram pessoas, muitas, mesmo. Demasiadas. Amanha é dia da liberdade, e espero que saibamos todos honrar esta herança: liberdade.

1 comentário:

  1. Bonito texto... e bonita mensagem!! Amei!!.. Acho que a liberdade está bem adormecida na actualidade.... de qualquer forma !! Viva 25 de ABRIL!!

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