domingo, 10 de dezembro de 2017

Terá este amor pernas para andar?





Há muito que não me perco em palavras sobre a corrida. Depois da paragem forçada foi-me difícil retomar os hábitos de treino, sobretudo na corrida. 
Para quem gosta de correr, não haverá nada mais agridoce, do que este sentimento de pertença à corrida se submeter à inércia que o recomeço no treino fomenta. Comigo foi assim. Foi. 
Tinha saudades de correr, da superação que cada quilómetro sofrido me acrescentava, do triunfo de perseverar quando os músculos e o pulmão pediam misericórdia, mas sobretudo, saudades deste encontro metafórico que só quem corre por amor poderá entender. 
E depois existem todas as pessoas que a corrida trouxe à minha vida, que a enriqueceram com a diversidade, a semelhança e a luz que espalham e me inspira. Se não tivesse sido por mim o regresso, seria certamente por elas. Tenho tantas saudades da energia de todos eles,  que voltar foi sempre uma meta. 
Esta semana regressei à ilha Terceira, e os treinos tiveram direito a estrada, trail e pista. Vi o nascer do dia no Monte Brasil, partilhei trilhos com os bambis, e vi o sol a nascer entre as folhas das árvores e em cada varanda do mar. Corri com a humidade a rondar os 100%, as pernas a doer, mas com a alma a reconhecer a magia de cada redescoberta. 



P.S: Estas meninas novas foram oferecidas com muito carinho pelo M e além de giras, amortecem bem, e por isso, espero que a nossa relação dure muitos quilómetros.  

domingo, 19 de novembro de 2017

O dom




Linearmente, podia dizer-se que o filme fala sobre a relação tio-sobrinha, e os desafios da educação de uma criança sobredotada, mas isso seria tão redutor e superficial.
Na verdade, este filme retrata um amor de irmãos que perdura no tempo após a morte, fala da lealdade de fazer cumprir a infância numa vivência plena, e das inseguranças inerentes ao amor e à preocupação genuína de quem ama. Quem ama de verdade também erra e corre atrás, pede desculpa, e reescreve o futuro outra vez. 
É claro que chorei. Ser tia é para mim uma dádiva e um desafio tão avassalador, que seria impossível não me render a esta esquadria de afinidades. Até há um gato nesta história para ajudar a festa. 
E no fim? A história repete-se, naquele que é o princípio comum a tudo, e no qual acredito acima de qualquer coisa: temos a resposta dentro de nós, só precisamos de não nos perder cá dentro, e confiar no amor. [o caminho mais fácil é o menos percorrido, e ainda assim o mais desafiante e recompensador ]

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Agradecer

Há um ano estávamos no SU, eu cheia de dores, e tu sem saber o que fazer. Hoje, agradeço a superação e celebro que tudo não passe agora de memórias, das quais sabemos rir, juntos. 
Num tempo só nosso, há uns anos atrás, arriscamos ser felizes juntos. Celebremos isso também, sempre. 


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Con Dao - Vietnam ( última paragem)

Foi muito bom mas acabou aqui, em Con Dao, e acabou em bom (demais).
Queria muito terminar esta viagem com pés na praia e mergulhos no mar, e assim foi.
À procura de uma praia que fosse pouco afectada pelas monções naquela altura do ano encontrei este paraíso verde.
Con Dao pertence já ao Vietnam e além de hoje em dia ser uma reserva natural em bruto, no século passado foi o destino de muitos prisioneiros políticos Vietnamitas, reputadas mundialmente como as prisões mais violentas do mundo. 
Mostro-vos então o paraíso, mas não vos esconderei os vestígios do inferno que a história conta. 





Praias maravilhosas e absolutamente desertas. Chegada aqui só queria não ter que regressar.

Areia fina, água morna, marés baixas foram sinónimo de algumas horas de molho a contemplar e contar conchas. 




Há várias prisões mas visitei só esta, não tive estofo para mais, assumo-o. Tinha lido um pouco da história e algumas descrições de como era as "tiger cages", mas ali, foi impossivel não chorar, não ouvir o desespero daqueles que foram ali torturados. 
Foi um (mais um) murro no estômago e ao mesmo tempo uma lição de história e humildade. Tenho muita sorte por ter nascido no ocidente, no paraíso à beira-mar plantado e numa época plena de democracia. 

Ar de quem vai fazer mergulho, ver peixes, corais e concretizar um sonho de pequenita. 

Um mar inteiro só nosso

As tartarugas bebés recem nascidas é que recolhemos para devolver ao mar. Era um sonho antigo, do qual além da viva memória restam poucos registos fotográficos porque as tartarugas seguem a luz, pelo que é necessário mantermo-nos à penumbra do luar, para as fazer entrar no mar. De cada 10000 tartarugas bebés que entram no mar apenas uma sobrevive, as fêmeas que atingem os 25 anos regressam sempre à praia onde nasceram para desovar. Foi maravilhoso e repetia tudo novamente, não há nada como ser espectadora da magia da natureza. 

Mergulhos na piscina com a moldura perfeita, no hotel mais perfeito de sempre. 

Um escaldão no ombro esquerdo das voltas à ilha de mota...



A despedida, feliz, coração transbordante e agradecida, por tudo, mas principalmente por todo o amor que preenche e dá sentido à (minha) vida. 










terça-feira, 24 de outubro de 2017

Amor gordo

Esta gorda carinhosa e zãzã faz hoje 5 meses. Cá dentro já fez um ano que a amo baixinho. 
Obrigada Kiriki, a madrinha não podia ter tido mais sorte contigo. Eu é que sou a madrinha, mas tu é que abençoaste o meu/nosso ano. 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Parabéns ao melhor presente

O Douro foi substituído pelo Atlantico mas para mim serás sempre o melhor presente, a melhor amiga e melhor irmã. Parabéns por seres a rainha das nossas vidas, que com esse dedo em riste nos comanda e esse sorriso nos seduz. O dia é teu, mas não há dúvidas, a sorte e a benção é toda nossa morena. Amo-te mais que o sal do mar. 

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Outono, podes entrar

O regresso a casa coincidiu com a despedida do Verão e a inevitável chegada do Outono. Custa-me imenso despedir do calor do sol a queimar a minha pele e a aloirar ainda mais a minha cabeçinha, e tento colmatar a nostalgia com a decoração lá em casa. Este ano o Outono ficou assim, e quando me fartar vira tudo sopa! 

É só um detalhe, mas que transforma a espera pelo Natal num compasso mais charmoso.

Jantar de meninas com a decoração a ganhar à comida.

Almoço da filha para a mãe, e uma invenção gostosa, rápida e fácil, que se irá repetir lá em casa, prevejo eu, até cansar. 

Venham as folhas secas, as castanhas e o Porto à lareira, estou pronta!


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Bear Sanctuary - Laos

[ Eu regressei a casa, à minha família de pessoas e animais, mas, se me permitem, o cliché vai manter-se no oriente, e contar tudo o que falta partilhar, sobre a viagem sonho-aventura.]

O Bear Sanctury, é um santuário que tem a missão de resgatar ursos que estariam condenados à escravatura, em quintas de procriação forçada e matadouro com desculpas medicinais chinesas, mas que visam exclusivamente a alta facturação. 
Tenho nutrido, com o tempo, a idade e a informação, um gradual desgosto por zoos, circos e gaiolas, e em simultâneo, uma admiração profunda pelo trabalho de pessoas ou de colectividades, que se dedicam a combater este tipo de violência e exploração. Nada de novo até aqui, certo? Rocha por fora, Carvalho por dentro, e o DNA a falar mais alto. 
No Laos descobri este centro [ mas há imensos projectos de protecção da vida animal que também queria ter conhecido e patrocinado mas que as limitações de agenda não permitiram ], e circunscrevi a minha estadia a esta experiência. Foi tão bom que repeti. O centro fica localizado ao lado de umas cascatas de sonho (podem ver no post anterior) e, não fossem os 30km de distancia entre o centro e Luang Prabang, se traduzirem em 1h de viagem de mota por estradas bem esburacadas, acho que teria ido todos os dias lá, só para ver os ursos mais um bocadinho (e dar uns mergulhos, óbvio). 
Paga-se um bilhete conjunto para o centro e as cascatas que, em Euros, deve corresponder a 2€/2,5€ que valem bem mais do que os arrepios na pele. Fico-me pelas fotos, e tentarei procurar o hilariante vídeo do meu salto medricas e mergulho subsequente!!! [Procurem no instagram @ines.carvalho.rocha]

Quem é que resiste a estas patinhas a roer? 

E a esta preguiçite demorada?

Casas na selva, quem não as queria para si também ?

E este urso bebé? Perdi a noção do tempo ao vê-lo brincar!

Reprodução das diferentes espécies de ursos que enriquecem o nosso mundo. 

Nao são tão mais ricas as vivências (também conhecidas por férias e turismo e viagens!), quando damos tanto quanto recebemos? Asseguro que no fim ainda se consegue sair no lucro! 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Sabaidee Laos


Esta sucessão de países, que parecem uma realidade paralela, faz-me sentir emolcionalmente confusa. Pois, por um lado, constato novamente como os dados da sorte me favoreceram, mas por outro, em como o essencial é como jogamos (nos deixamos jogar, na verdade) este monopólio. 
É nesta ambivalência que aterro no Laos, sentido que me tiram o tapete e pegam ao colo, tudo ao mesmo tempo. 
Muito menos badalado que o vizinho Camboja, o Laos é ternamente arrebatador. 
Entre arrozais e montanhas, rios e cascatas, há um dia-a-dia que flui sem sofreguidão, uma aceitação que vai muito para além da passividade, e um saber receber cuidadosamente atento. 
Luang Prabang cresceu em redor do rio, é pacata e charmosa, e aqui mesmo os pais pobres não pareciam atingir o nível de mendicidade de Siem Reap, que tanto me chocou, há que o dizer. Chocou, não pela pobreza em si, mas pelo volume de negócio facturado pelo estado que a cidade representa, e que não vi traduzido em políticas sociais para a população. E não é tão assustador, que o turismo possa ser tão preverso, acentuando a desigualdade social quando era expectável que fosse a fonte certa para a colmatar? Pedra após pedra que se unem como legos, não será isso que o tempo da história tem para nos ensinar? Porque será que a ciclocidade dela nos faz cárceres dessa ronha, e nos impede de crescer, fazer diferente e melhor? 
Reminiscências e desabafos à parte, voltemos ao Laos. Então, cheguei cansada e atordoada com as muitas e tão intensas vivências anteriores, pelo que automaticamente ficou decidido abrandar o ritmo, ignorar um pouco a sofreguidão de quem quer ver e conhecer tudo em contra-relógio. 
De mota perdemo-nos propositadamente pela cidade, parámos por impulso sempre que deu vontade e não vimos nenhum templo, já que além do resto, também precisava de um descanso deles. 
Os dias foram saborosos, devagar, por pontes de madeira e ruas esburacadas, e de tudo, sem surpresa, as pessoas foram o que mais gostei. 

Cascatas de Kuang Si, a uns 30km da cidade 

Gostei tanto que repetímos esta piscina azul no meio da floresta, com uma água tão limpa e fria que parecia irreal. 

Quase que se consegue ouvir a água a cair no trono do seu reino

O Palácio Real, rebuscado e ornamentado à altura e que é tão mais impressionante por dentro (onde não deixam fotografar) do que por fora. 

Parece um cromo repetido mas não consigo me cansar desta pastilha colorida em todo o lado

Monte Phousi, muitos degraus, as melhores vistas da cidade, espelhos de água e molduras verdes a perder de vista

Estes gatos bebés estavam a miar desalmadamente atrás de uns turistas, miavam de fome, e foram ignorados por eles. Não sei como depois de saber o que pessoas fazem com (contra) pessoas como ainda me sinto desiludida e frustrado por ver pessoas a tratarem animais assim, com indiferença. Fui à banca mais perto, a dona não falava inglês, mas apontei para os gatos e ela levantou-se e indicou-me estes biscoitos. 

O pôr-do-sol 

O mercado da manhã, é um misto de cores e cheiros e atracção e repulsa. Por isso mesmo, irresistível. 


Esta foto fez-me recuar anos e anos, e fazer-me sentir no Mercado Abastecedor do Porto, em que estas laranjas foram melões, e ali ao lado estaria eu e aninha mana. A nostalgia do paralelismo e da semelhança.

A ronda das almas. 
Luang Prabang é muito conhecida (embora esta cerimónia seja Budista é portanto prática comum em todos os países Budistas) pela cerimónia.

Começa com os mantras da purificação da água, cantado/rezado em fila e uníssono por dezenas de monges. 

Eles têm as idades mais diversas, cabelos rapados, descalços, e só comerão naquele dia o que recolherem ali. 

Ainda não sei como reagir sem me emocionar, com a fé destas pessoas que acordam às 5h para alimentar, ou serem alimentadas por esta fé. 








sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Às vezes desobedecer é preciso


Hoje é dia de rumar a Lisboa e fazer a nossa revolta. Vivemos num país livre, onde temos o direito a dizer que não estamos bem e merecemos dignidade e respeito. Cada um pode ter a sua agenda, mas no fim do dia somos todos enfermeiros. Que saibamos melhor o que nos une, do que aquilo que nos separa. 
Diz-me a memória que a história tende a ser circular, e hoje, espero que se repita a manifestação dos enfermeiros nos anos 70 que terá parado o país. 
Eu, que sempre me manifestei insatisfeita e inúmeras vezes grevista a solo, não posso deixar de agradecer a quem vai hoje manifestar-se e a quem tem feito greve, ao longo destes 5 dias tão importantes. Orgulho-me imenso da nossa força. 
Às vezes desobedecer é preciso. Hoje é o dia. 


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Angkor, o encontro, passo a passo


Tinha-me preparado bem para o nosso primeiro encontro, decidido quando nos conheceríamos, ia ser ao nascer do sol, onde diríamos olá um ao outro, na esperança de ser correspondida. Imaginei por onde íriamos caminhar juntos, onde me contaria a sua história. Passo a passo, chegaríamos ao fim do dia, momento no qual nos sentaríamos, frente a frente, ou lado a lado, ia deixá-lo decidir isso por nós, a ver o sol a partir. 
Espero que não considerem leviana esta minha forma de me apaixonar sucessivamente por redomas de história, mas no fundo, há que admitir, há uma romântica em mim. 

Foi assim que aconteceu: 

Depois do nascer do sol fomos a Angkor Wat. Este templo foi construído para ser visto no sentido contrário aos ponteiros do relógio, em pedra para ser digno de deuses, prodigiosamente pensado para sobreviver às monções, magestoso nos detalhes que falam. Tem uns modestos 900 anos de idade e ainda é de cortar a respiração. A caminhar pelos seus pátios, corredores ou jardins é fácil percebermos o nosso pequeno tamanho e o quanto às aulas de história não nos contaram sobre estes outros mundos. 






Como uma criança numa das muitas piscinas do templo pensadas para suportarem a água das monções por um lado, e por outro para as cerimónias de purificação da água. 

A saída pela porta este, as árvores e a luz que faz questão de se fazer notar, surreal. 

Beng Malea, a que chamam o Titanic dos templos por estar totalmente submerso na floresta. 





    

Banteay Srei, ou em português, a cidade das mulheres. Dos meus favoritos, pelo detalhe intrincado e delicadeza em pedra. 



Bayon e as suas surreais 216 caras de Buda, a olhar tudo e todos.

Conversinha boa a dois.

Terraço dos elefantes, 350m de muros decorados a elefantes.

  
Ta Prohm, o templo do filme, em que uma árvore-polvo parece querer engolir o templo. Ou o tempo a dizer ao homem quem reina de verdade.  

Ao fim do dia tentámos ver o pôr-do-sol no Pre Rup, mas o tempo não conspirou a nosso favor e tivemos que fugir, literalmente, de uma chuva de trovões assustadores. 

[ Faltam ainda aqui mais templos, mas estes são para mim os favoritos.] 

Nos dias seguintes desfrutamos de Siem Reap a caminhar sem destino pela cidade, repetimos o nascer do sol, os templos favoritos e provamos os pratos locais. Até agora tenho gostamos muito da comida, e aprendi a perguntar se é spicy, e quando dizem que não, é o tolerável para uma ocidental como eu.