sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Bear Sanctuary - Laos

[ Eu regressei a casa, à minha família de pessoas e animais, mas, se me permitem, o cliché vai manter-se no oriente, e contar tudo o que falta partilhar, sobre a viagem sonho-aventura.]

O Bear Sanctury, é um santuário que tem a missão de resgatar ursos que estariam condenados à escravatura, em quintas de procriação forçada e matadouro com desculpas medicinais chinesas, mas que visam exclusivamente a alta facturação. 
Tenho nutrido, com o tempo, a idade e a informação, um gradual desgosto por zoos, circos e gaiolas, e em simultâneo, uma admiração profunda pelo trabalho de pessoas ou de colectividades, que se dedicam a combater este tipo de violência e exploração. Nada de novo até aqui, certo? Rocha por fora, Carvalho por dentro, e o DNA a falar mais alto. 
No Laos descobri este centro [ mas há imensos projectos de protecção da vida animal que também queria ter conhecido e patrocinado mas que as limitações de agenda não permitiram ], e circunscrevi a minha estadia a esta experiência. Foi tão bom que repeti. O centro fica localizado ao lado de umas cascatas de sonho (podem ver no post anterior) e, não fossem os 30km de distancia entre o centro e Luang Prabang, se traduzirem em 1h de viagem de mota por estradas bem esburacadas, acho que teria ido todos os dias lá, só para ver os ursos mais um bocadinho (e dar uns mergulhos, óbvio). 
Paga-se um bilhete conjunto para o centro e as cascatas que, em Euros, deve corresponder a 2€/2,5€ que valem bem mais do que os arrepios na pele. Fico-me pelas fotos, e tentarei procurar o hilariante vídeo do meu salto medricas e mergulho subsequente!!! [Procurem no instagram @ines.carvalho.rocha]

Quem é que resiste a estas patinhas a roer? 

E a esta preguiçite demorada?

Casas na selva, quem não as queria para si também ?

E este urso bebé? Perdi a noção do tempo ao vê-lo brincar!

Reprodução das diferentes espécies de ursos que enriquecem o nosso mundo. 

Nao são tão mais ricas as vivências (também conhecidas por férias e turismo e viagens!), quando damos tanto quanto recebemos? Asseguro que no fim ainda se consegue sair no lucro! 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Sabaidee Laos


Esta sucessão de países, que parecem uma realidade paralela, faz-me sentir emolcionalmente confusa. Pois, por um lado, constato novamente como os dados da sorte me favoreceram, mas por outro, em como o essencial é como jogamos (nos deixamos jogar, na verdade) este monopólio. 
É nesta ambivalência que aterro no Laos, sentido que me tiram o tapete e pegam ao colo, tudo ao mesmo tempo. 
Muito menos badalado que o vizinho Camboja, o Laos é ternamente arrebatador. 
Entre arrozais e montanhas, rios e cascatas, há um dia-a-dia que flui sem sofreguidão, uma aceitação que vai muito para além da passividade, e um saber receber cuidadosamente atento. 
Luang Prabang cresceu em redor do rio, é pacata e charmosa, e aqui mesmo os pais pobres não pareciam atingir o nível de mendicidade de Siem Reap, que tanto me chocou, há que o dizer. Chocou, não pela pobreza em si, mas pelo volume de negócio facturado pelo estado que a cidade representa, e que não vi traduzido em políticas sociais para a população. E não é tão assustador, que o turismo possa ser tão preverso, acentuando a desigualdade social quando era expectável que fosse a fonte certa para a colmatar? Pedra após pedra que se unem como legos, não será isso que o tempo da história tem para nos ensinar? Porque será que a ciclocidade dela nos faz cárceres dessa ronha, e nos impede de crescer, fazer diferente e melhor? 
Reminiscências e desabafos à parte, voltemos ao Laos. Então, cheguei cansada e atordoada com as muitas e tão intensas vivências anteriores, pelo que automaticamente ficou decidido abrandar o ritmo, ignorar um pouco a sofreguidão de quem quer ver e conhecer tudo em contra-relógio. 
De mota perdemo-nos propositadamente pela cidade, parámos por impulso sempre que deu vontade e não vimos nenhum templo, já que além do resto, também precisava de um descanso deles. 
Os dias foram saborosos, devagar, por pontes de madeira e ruas esburacadas, e de tudo, sem surpresa, as pessoas foram o que mais gostei. 

Cascatas de Kuang Si, a uns 30km da cidade 

Gostei tanto que repetímos esta piscina azul no meio da floresta, com uma água tão limpa e fria que parecia irreal. 

Quase que se consegue ouvir a água a cair no trono do seu reino

O Palácio Real, rebuscado e ornamentado à altura e que é tão mais impressionante por dentro (onde não deixam fotografar) do que por fora. 

Parece um cromo repetido mas não consigo me cansar desta pastilha colorida em todo o lado

Monte Phousi, muitos degraus, as melhores vistas da cidade, espelhos de água e molduras verdes a perder de vista

Estes gatos bebés estavam a miar desalmadamente atrás de uns turistas, miavam de fome, e foram ignorados por eles. Não sei como depois de saber o que pessoas fazem com (contra) pessoas como ainda me sinto desiludida e frustrado por ver pessoas a tratarem animais assim, com indiferença. Fui à banca mais perto, a dona não falava inglês, mas apontei para os gatos e ela levantou-se e indicou-me estes biscoitos. 

O pôr-do-sol 

O mercado da manhã, é um misto de cores e cheiros e atracção e repulsa. Por isso mesmo, irresistível. 


Esta foto fez-me recuar anos e anos, e fazer-me sentir no Mercado Abastecedor do Porto, em que estas laranjas foram melões, e ali ao lado estaria eu e aninha mana. A nostalgia do paralelismo e da semelhança.

A ronda das almas. 
Luang Prabang é muito conhecida (embora esta cerimónia seja Budista é portanto prática comum em todos os países Budistas) pela cerimónia.

Começa com os mantras da purificação da água, cantado/rezado em fila e uníssono por dezenas de monges. 

Eles têm as idades mais diversas, cabelos rapados, descalços, e só comerão naquele dia o que recolherem ali. 

Ainda não sei como reagir sem me emocionar, com a fé destas pessoas que acordam às 5h para alimentar, ou serem alimentadas por esta fé. 








sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Às vezes desobedecer é preciso


Hoje é dia de rumar a Lisboa e fazer a nossa revolta. Vivemos num país livre, onde temos o direito a dizer que não estamos bem e merecemos dignidade e respeito. Cada um pode ter a sua agenda, mas no fim do dia somos todos enfermeiros. Que saibamos melhor o que nos une, do que aquilo que nos separa. 
Diz-me a memória que a história tende a ser circular, e hoje, espero que se repita a manifestação dos enfermeiros nos anos 70 que terá parado o país. 
Eu, que sempre me manifestei insatisfeita e inúmeras vezes grevista a solo, não posso deixar de agradecer a quem vai hoje manifestar-se e a quem tem feito greve, ao longo destes 5 dias tão importantes. Orgulho-me imenso da nossa força. 
Às vezes desobedecer é preciso. Hoje é o dia. 


quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Angkor, o encontro, passo a passo


Tinha-me preparado bem para o nosso primeiro encontro, decidido quando nos conheceríamos, ia ser ao nascer do sol, onde diríamos olá um ao outro, na esperança de ser correspondida. Imaginei por onde íriamos caminhar juntos, onde me contaria a sua história. Passo a passo, chegaríamos ao fim do dia, momento no qual nos sentaríamos, frente a frente, ou lado a lado, ia deixá-lo decidir isso por nós, a ver o sol a partir. 
Espero que não considerem leviana esta minha forma de me apaixonar sucessivamente por redomas de história, mas no fundo, há que admitir, há uma romântica em mim. 

Foi assim que aconteceu: 

Depois do nascer do sol fomos a Angkor Wat. Este templo foi construído para ser visto no sentido contrário aos ponteiros do relógio, em pedra para ser digno de deuses, prodigiosamente pensado para sobreviver às monções, magestoso nos detalhes que falam. Tem uns modestos 900 anos de idade e ainda é de cortar a respiração. A caminhar pelos seus pátios, corredores ou jardins é fácil percebermos o nosso pequeno tamanho e o quanto às aulas de história não nos contaram sobre estes outros mundos. 






Como uma criança numa das muitas piscinas do templo pensadas para suportarem a água das monções por um lado, e por outro para as cerimónias de purificação da água. 

A saída pela porta este, as árvores e a luz que faz questão de se fazer notar, surreal. 

Beng Malea, a que chamam o Titanic dos templos por estar totalmente submerso na floresta. 





    

Banteay Srei, ou em português, a cidade das mulheres. Dos meus favoritos, pelo detalhe intrincado e delicadeza em pedra. 



Bayon e as suas surreais 216 caras de Buda, a olhar tudo e todos.

Conversinha boa a dois.

Terraço dos elefantes, 350m de muros decorados a elefantes.

  
Ta Prohm, o templo do filme, em que uma árvore-polvo parece querer engolir o templo. Ou o tempo a dizer ao homem quem reina de verdade.  

Ao fim do dia tentámos ver o pôr-do-sol no Pre Rup, mas o tempo não conspirou a nosso favor e tivemos que fugir, literalmente, de uma chuva de trovões assustadores. 

[ Faltam ainda aqui mais templos, mas estes são para mim os favoritos.] 

Nos dias seguintes desfrutamos de Siem Reap a caminhar sem destino pela cidade, repetimos o nascer do sol, os templos favoritos e provamos os pratos locais. Até agora tenho gostamos muito da comida, e aprendi a perguntar se é spicy, e quando dizem que não, é o tolerável para uma ocidental como eu. 









terça-feira, 12 de setembro de 2017

Camboja, há muito sonhada


Não vi Tomb Raider o filme, nem joguei o jogo, mas lembro-me bem que as pernas da Angelina Jolie figuravam na parede do quarto dos rapazes da minha adolescência. Com isto quero dizer que não sei quando começou o sonho, acho que fomos crescendo juntos, até que o dia chegou. 
Marquei encontro para as 4h da manhã, e estivemos todo o dia juntos, eu e o sonho. Entretanto, foi forçoso que eu acordasse, e gosto de lembrá-lo assim:



Ao amanhecer, o frio na barriga, a pele suada do calor e da comoção, a paz entre a multidão que assiste ao nascer do dia, e o silêncio que impera. 
Sem surpresas Angkor é tudo aquilo que leram e ouviram falar, são todos os pixels das fotografias que já viram, e mais uns pós de perlimpimpim. Além da magnitude e da imponência da construção, da história que as paredes contam, o que mais impacto tem é pisar aqueles blocos de pedra e saber que foram transportados, um por um, por mais de 50km entre o rio, elefantes e à mão, por milhares de pessoas, há mais de 900 anos, sim estes todos. 
É o maior edifício religioso do mundo, foi o centro social, político e religioso do império Khmer, no seu apogeu albergava 1 milhão de habitantes, enquanto que Londres à mesma data tinha 50 000. Dizem que é grande como a muralha da China, detalhado como o Taj Mahal e simétrico como as pirâmides do Egipto. 
Simbolicamente, Angkor representa o Céu na Terra, e não é necessário professarmos o Budismo ou o Hinduísmo para que a espiritualidade nos faça tremer por dentro. Não é portanto difícil de perceber que ele seja o coração e a alma do país, o reduto da sua força e o seu grande orgulho. 
(A história continua)


[Havia marcado guia com antecedência porque sabia que teria pouco tempo e chegaria já de noite a Siem Reap, mas percebi tarde demais que me haviam dado o guia errado. Haja muito sangue frio para pagar a uma pessoa que só debitou datas e reis, que sempre que teve oportunidade ficou a falar Kmer com o motorista ao invés dos clientes, cujo grande talento foi o de GPS. Feitas as contas foram 15h a ouví-lo agora vamos por aqui, esquerda, direita, ali tiram foto, podem ir para ali passear que eu fico aqui à espera.... Como para mim o blogue não serve para apontar o dedo a ninguém (que não teria direito a defesa, só chacota pública), não vou acrescentar mais nada sobre este assunto. Eventualmente quem for a Angkor e, tal como eu, fizer questão de ter um guia, pode perguntar-me detalhes por e-mail ou mensagem, e pelo menos certificar-se de que esta fava não lhe calha na rifa.]



segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Mesmo de férias sou enfermeira


Mesmo de férias e longe tenho-me apercebido dos atropelos sucessivos, de vários géneros e tantos lados, aos quais os enfermeiros têm sido sujeitos últimamente. 
Devia desligar o botão nas férias mas não posso, ser enfermeira faz parte de quem eu sou. E por isso, para mim, a greve é uma questão de honra e amor próprio. Se não sabem o nosso valor, que hoje seja o dia de saber a nossa força. Estou convosco. 

sábado, 9 de setembro de 2017

Mandalay, a despedida de Myanmar


Mandalay foi a última estação do comboio Myanmar, antes de mudar de linha ou baralhar as cartas, e me jogar à sorte de mais aventuras. 
Aterrar no meio do nada, sem se ver a cidade, só árvores, as lojas do aeroporto fechadas pelas festividades da Lua cheia, e os kyats (que se lê chats) tiveram que vir do multibanco, havia 4 e um funcionava. Até aqui, tudo normal. 
Porém, a caminho do hotel surpreendeu-me encontrar uma cidade moderna, organizada e quase ocidentalizada. Confesso que foi um misto de surpresa e decepção. 
Abrandei o ritmo desenfreado dos últimos dias e deixei fluir, no capricho de ver só o que chamava por mim. 
Fiquei num hotel bem central para tentar conhecer a cidade a pé. Os 30 graus, os 95% de humidade, e um trânsito infernal com buzinadelas, fizeram desta escolha um erro que não repeti, mas com pena. 

As fotos:

Ver o nascer do sol passou a ser uma das minhas actividades favoritas. A ponte U-Bein tem a fama de ser a maior ponte de madeira do mundo e o local mais bonito para o nascer do sol. Havia imensos locais a alongar, atravessar rumo às suas vidas, e vários, que simplesmente ficavam ali sentados a ver a vida passar, como eu. 

Estes tufadinhos vermelhos por todo o lado. 

O sol a nascer e as nuvens no horizonte a complicarem o espetáculo. 

À espera 

Misturada com contemplação 


Os locais 

O Palácio Real, aqui pela primeira vez, percebemos que a ditadura reina. Imensas restrições e regras para visitar um palácio, que não é habitado. Mas é magestoso, e conta histórias do tempo que passou ( mas terá passado que chegue?)

Outrora posto de vigia do palácio, hoje miradouro de turistas



Os detalhes inacreditáveis desta decoração 

A cama do rei que mais parece um berço de tão pequenina que é!


As colunas cobertas nestes puzzles que não me canso de admirar 


O fim da tarde no Mandalay Hill

Onde foram precisos subir mais de 1000 degraus, em contra relógio para ver o pôr-do-sol, e onde cheguei neste estado de morta-viva!!


Descer no escuro aquele batalhão de degraus foi mais rápido!

A uns 30km da cidade, que demoram mais de 1h de carro, Mingun é uma localidade pequena que tem este templo inacabado, a quem os temporais e terramotos não têm tratado muito bem. Surge assim aos nossos olhos e é imponente. 



Muitos e muitos mais degraus depois, em Sagaing Hill, e Mandalay no horizonte.