Gosto que este blog seja um cliché ou então que vá colorindo os meus dias de cor de rosa, mas desde o dia de São João em que acordei com a notícia da saída do Reino Unido da União Europeia que as palavras soam na minha cabeça como um alarme que não consigo calar.
Acho que daqui a 50 anos se for vivinha e lúcida, vou contar como no dia 24 acordei com esta notícia que me parece a crónica de uma guerra anunciada. Como a circularidade da história se apresentou aos meus olhos lucidamente, como, por um lado, não me surpreende que existam países que não se identifiquem com esta Uniao Europeia, que tem caminhado vertiginosamente para uma ditadura económica, sem coração e sem memória, mas por outro, acho assustador que um país, supostamente tão instruído, se tenha fechado sobre si próprio ao ponto de alimentar sentimentos e comportamentos xenófobos, com o argumento de que o que gastamos na Europa passaremos a gastar cá dentro. Mas haverá alguém que ache que os apoios dos ditos mais ricos não vêm embrulhados em luxuriantes contrapartidas económicas? Que isto da União Europeia é muito lindo mas, amigos amigos, negócios à parte, porque no fim o resultado é sempre o mesmo: ganham todos.
Não soa um alarme insurdecedor isto de uns acharem que são melhores do que os outros? E quanto a esta suposta lei Dinamarqueza ( não deveria ter o nome de lei, porque na minha cabeça uma lei é um direito ou a reposição de um) que expropria os refugiados dos seus parcos bens? Isto não faz lembrar nada numa história recente? Isto não vos faz tremer por dentro? Não estranham que isto se passe impunemente? Que morram crianças afogadas a caminho da Europa a tentar fugir da guerra e não haja uma clara acção de os ajudar? Não pagaremos todos a factura desta desumanização consentida?
Não me identifico com esta UE que se tem agarrado tanto aos números e não às pessoas, que tem exigido resultados mesmo que esses advenham de grandes injustiças sociais, e respectivas desigualdades, e gostava muito que a discutíssemos e a reinventássemos sem pudores. Mas isto sem desmembramentos, irónicamente sobretudo, de elementos que sempre foram privilegiados.
O princípio basilar da UE foi criar uma identidade europeia, uma união ( onde estão elas?) porque a experiência de duas grandes guerras mundiais ensinaram a velha Europa de então que, subtraídas as diferenças (divergências) ela era muito mais forte unida, e que no fim de cada uma das guerras, e das divisões que elas criaram, independentemente de quem ganhara, todos tinham perdido demasiado ( os vencidos e os vencedores).
Que o dia 24 não seja daqui a 50 anos o dia que ditará o início de outro triste círculo de horror. Porque esta ideia não me sai da cabeça como se fosse um despertador que não consigo calar.