É nesta ambivalência que aterro no Laos, sentido que me tiram o tapete e pegam ao colo, tudo ao mesmo tempo.
Muito menos badalado que o vizinho Camboja, o Laos é ternamente arrebatador.
Entre arrozais e montanhas, rios e cascatas, há um dia-a-dia que flui sem sofreguidão, uma aceitação que vai muito para além da passividade, e um saber receber cuidadosamente atento.
Luang Prabang cresceu em redor do rio, é pacata e charmosa, e aqui mesmo os pais pobres não pareciam atingir o nível de mendicidade de Siem Reap, que tanto me chocou, há que o dizer. Chocou, não pela pobreza em si, mas pelo volume de negócio facturado pelo estado que a cidade representa, e que não vi traduzido em políticas sociais para a população. E não é tão assustador, que o turismo possa ser tão preverso, acentuando a desigualdade social quando era expectável que fosse a fonte certa para a colmatar? Pedra após pedra que se unem como legos, não será isso que o tempo da história tem para nos ensinar? Porque será que a ciclocidade dela nos faz cárceres dessa ronha, e nos impede de crescer, fazer diferente e melhor?
Reminiscências e desabafos à parte, voltemos ao Laos. Então, cheguei cansada e atordoada com as muitas e tão intensas vivências anteriores, pelo que automaticamente ficou decidido abrandar o ritmo, ignorar um pouco a sofreguidão de quem quer ver e conhecer tudo em contra-relógio.
De mota perdemo-nos propositadamente pela cidade, parámos por impulso sempre que deu vontade e não vimos nenhum templo, já que além do resto, também precisava de um descanso deles.
Os dias foram saborosos, devagar, por pontes de madeira e ruas esburacadas, e de tudo, sem surpresa, as pessoas foram o que mais gostei.
Cascatas de Kuang Si, a uns 30km da cidade
Gostei tanto que repetímos esta piscina azul no meio da floresta, com uma água tão limpa e fria que parecia irreal.
O Palácio Real, rebuscado e ornamentado à altura e que é tão mais impressionante por dentro (onde não deixam fotografar) do que por fora.
Monte Phousi, muitos degraus, as melhores vistas da cidade, espelhos de água e molduras verdes a perder de vista
Estes gatos bebés estavam a miar desalmadamente atrás de uns turistas, miavam de fome, e foram ignorados por eles. Não sei como depois de saber o que pessoas fazem com (contra) pessoas como ainda me sinto desiludida e frustrado por ver pessoas a tratarem animais assim, com indiferença. Fui à banca mais perto, a dona não falava inglês, mas apontei para os gatos e ela levantou-se e indicou-me estes biscoitos.
O mercado da manhã, é um misto de cores e cheiros e atracção e repulsa. Por isso mesmo, irresistível.
Esta foto fez-me recuar anos e anos, e fazer-me sentir no Mercado Abastecedor do Porto, em que estas laranjas foram melões, e ali ao lado estaria eu e aninha mana. A nostalgia do paralelismo e da semelhança.
A ronda das almas.
Luang Prabang é muito conhecida (embora esta cerimónia seja Budista é portanto prática comum em todos os países Budistas) pela cerimónia.
Começa com os mantras da purificação da água, cantado/rezado em fila e uníssono por dezenas de monges.
Eles têm as idades mais diversas, cabelos rapados, descalços, e só comerão naquele dia o que recolherem ali.
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