sábado, 16 de fevereiro de 2013

sábado, 16 de fevereiro de 2013

na mesinha de cabeçeira mora: O falador

Este livro morou na minha mesinha de cabeçeira muito tempo, talvez até demasiado. Começou por estar em lista de espera, mas nos longos 4 meses que demorei a lê-lo, foi atropelado por outros, que se impuseram! Mas não desisti dele, não gosto de desistir dos meus livros, nem que seja para reclamar deles no fim. O que não é o caso.
O falador é o terceiro livro do Mario Vargas Llosa que leio (o primeiro foi "O paraíso na outra esquina", seguido pelo " A festa do chibo"), e o terceiro que me deixa rendida. Vou ser redundantemente cliché e catalogar: adoro  os autores sul americanos. Adoro o universo deles tão exótico, místico, tropical e que me faz sempre viajar.
O falador retrata uma história que na Europa seria inverosímel, mas que, na mágica floresta amazónica é tão real. Podia dizer que, neste livro, o  meu querido Llosa fez do narrador a personagem principal, que retrata a dualidade do passado/presente, os universos cidade/selva. E seria verdade. Mas para mim é mais.
Este livro apresenta-nos uma personagem que é A entidade/identidade machiguenga. Fala-nos desta tribo, dos rituais, da lingua, das rotinas. Mas mostra-nos que aquilo que nos é tão estranho, aqueles que nos parecem tão diferentes, são no fundo, no fundo, tão iguais. Há uma tribo na floresta peruana que é tão paralela ao povo judeu. Nas crenças, no enraizamento das suas tradições, na inabalável fé, na diáspora como modo de vida.
E, afinal, quem é o falador? O falador é a memória de um povo e de uma cultura, o falador é o entretenimento de uma tribo, é o elo que une todas as famílias separadas pela diáspora. O falador é a alma deles, o guia, o que os torna únicos, o que os torna unidos. E a história conta como uma pessoa pode nascer e crescer no seio de uma determinada cultura social e religiosa e, na idade adulta, descobrir, no fundo da alma, que se é outro, que é novo, que é velho, que aprende, que tudo sabe. O falador fala de como nada é garantido, de como, um pormenor, numa conversa na selva numa noite tropical, pode alimentar a curiosidade de uma pessoa por toda a sua vida.
O falador fala de como todos somos diferentes e iguais, na mesma proporção, de como um dia podemos mesmo encontrar-nos connosco e sermos outro. E sermos mais felizes assim, garantidamente.


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