sexta-feira, 5 de junho de 2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

dois pés no vulção

Dia 30 de Maio foi um dia super especial, planeado desde há mais de um ano, assim que ouvi falar da 1ª edição do Azores Trail Run e não consegui inscrever-me a tempo. Ficou cá dentro o bichinho, e depois de ler e ver as reportagens sobre a prova sabia que teria de participar. Ficou tudo muito decidido cá dentro, o apelo era grande demais. Assim foi. Inscrevi-me logo na primeira hora em que abriram as inscrições, e marquei a viagem. Uma animação enorme e um friozinho na barriga porque, afinal de contas eu adoro correr, mas não corro assim tanto. Foram 21km e uns metros totalmente mágicos. 
Cheguei à Horta no dia anterior e por todo o lado a cidade mostrava sinais de um movimento associado à prova, com cartazes e turistas com ar de atletas espalhados por todo o lado. A primeira coisa a fazer foi levantar os dorsais, e já aqui tenho que parar e fazer um aparte. O dorsal desta prova ganha a qualquer outro, fazendo-se acompanhar de um queijo, um pote de mel e um lata de atum Santa Catarina, que eu adoro. Só por aqui já se podia adivinhar que nenhuma prova poderia bater esta. Durante a espera o ambiente é o habitual nas provas, descontracção e entusiasmo, e conheci logo ali uma família de inscritos que acabou por partilhar a prova comigo. 
Como a prova tinha o percurso dos 48km, as camionetas da organização, que gratuitamente levavam as pessoas da cidade para a partida, eram muito cedo, às 7h. Para quem, como eu, ia ali correr o que, comparativamente, parecia uma prova de meninos, os 21km, a partida só estava marcada para as 11h30, e portanto entre acordar às 6h  e ir de bus, e acordar às 9h e ir de taxi, foi fácil, escolhi o táxi. 
Os taxistas no Faial são muitas vezes guias turísticos, e o nosso, o Sr Fernando, não era excepção, parecia tão entusiasmado com a prova quanto nós, e foi todo o caminho a tecer comentários e informações sobre os sítios por onde passávamos, e por onde a prova ia decorrer. Sem dúvida nenhuma que o sucesso desta prova passa muito pelo acolhimento que os Faialenses fazem, e sabem fazer aos participantes. 
Chegamos super cedo à partida, fomos os primeiros a chegar à caldeira, e para espanto nosso e até da organização, passa o primeiro atleta dos 48km, o espanhol Tòfol Castanyer que em 1h20 percorreu 20km, 30min mais cedo do que o vencedor da edição passada. Sem palavras para ele, só palmas.
Na meta encontramos os nossos companheiros que conheceramos no dia anterior, e desde as 11h30 e o primeiro metro fomos a companhia uns dos outros e lebres uns para os outros. É maravilhoso isto que a corrida nos proporciona, a camaradagem com pessoas totalmente desconhecidas, mas com quem sentimos de imediato uma empatia, porque o que nos une são umas sapatilhas nos pés, e um gosto comum, correr. 
A prova começa logo a subir, e eu penso, bem mas isto começa já aqui a separar o trigo do joio? Não tinham dito ontem que isto era sempre a descer? A subir chegamos à caldeira, e aqui eu nem sabia se havia de tentar correr, embora em muitos sítios só coubesse um pezinho meu de cada vez, ou se devia ficar a pasmar com aquela paisagem arrasadora. Bom, fui tentando correr e km após km o percurso conseguia sempre fazer-nos render à sua beleza e motivar. Os 21km tinham como nome " os 10 vulcões" e a determinada altura durante a prova caiu-me a ficha e percebi o porque de tantas subidas. 
Gostava de vos saber dizer em concreto por que sítios passei a correr mas não sei, visitem a página do Azores Trail Run, espreitem o álbum de fotos, ou a reportagem em video, vai valer a pena. 
No primeiro abastecimento, aos 13km, estava já mortinha de sede, porque a minha água já tinha acabado há já 2km e mal cheguei nem queria acreditar, e não sabia se haveria de pasmar ou rir: que banquete. Bebi água, enchi cantil, não corri riscos e comi apenas o que como sempre, as laranjas e as bananas e aproveitei o ambiente. Depois de ter recuperado o fôlego e os companheiros de corrida segui, e estes últimos 10km foram uma superação, imensas subidas, muito íngremes, e como tudo o que sobre desce, descidas, que no Faial, são em degraus de meio metro. Quando o desespero parecia que vinha para ficar o Pico ali ao lado, e o mar lá ao fundo, a vislumbrar os Capelinhos, faziam tudo valer a pena. 
No final, já sem joelhos de tantos degraus e os pés a doer, deparo-me com o último km em areia e os Capelinhos imponente à nossa espera. Pensei que não ia conseguir correr, mas assim que vi aquele balãozinho azul da chegada no horizonte, a alegria de estar ali era de tal que superou tudo. Corri até à meta sempre com os olhos fixos nos Capelinhos, e a lembrar-me que na minha primeira visita ao Faial há 17 anos atrás o Farol estava quase todo coberto pelas areias do vulcão, e agora estava ali, inteiro para nos receber. 
A alegria da chegada, a imponência da beleza natural e o balão da chegada fazem desta meta a mais bonita e sem dúvida a que eu mais gostei de conquistar para mim. No fim de tudo, ainda se podia ter massagens, mas melhor que isso, dar um mergulho nas piscinas naturais dos Capelinhos. 
Após cruzar a meta, rodeada por aquela música e ambiente de festa instalados, quando me perguntam o que achava da prova, só podia mesmo dizer que tinha tanto de dura como de bonita, e valia mesmo a pena vir de tão longe para ter esta experiência. 

aqui está a prova da alegria de 3h50 a correr
adoro esta foto, não imagino onde possa ter sido tirada, mas aproveito-a para agradecer a todos os fotógrafos, profissionais e amadores, que se voluntariaram para participar, proporcionando-nos desta forma memórias felizes, e tão importantes, para quem corre: obrigada!
a melhor recompensa na chegada, a M., adormeceu, porque os seus 3 anos falaram mais alto, mas ainda assim foi a melhor motivação que já tive, e um dos motivos que fizeram desta prova tão especial. 
os companheiros inesperados, e a medalha, que já agora é a mais original de todas
cada um escolhe o seu caminho, mas cada vez mais sei que correr é uma escolha feliz para mim.
 Obrigada a todos aquel@s que fizeram esta prova possível para mim, e permitiram que o cliché se mantivesse assim, cor de rosa. 

1 comentário:

  1. A foto é da Elisabete Carvalho. Tem lá outra da chegada que vale a pena...
    O álbum dela está no Facebook

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